
Estórias do quotidiano – 1
O presente de aniversário
– Mamã, o que queres para o teu aniversário? – perguntou-me a minha filha, com uma antecedência considerável.
– Não preciso de nada, filhota… Muito amor e carinho… Ah, e tempo livre!
Como resposta, obtive um encolher de ombros e um sorriso. O tempo passou, e eu esqueci o assunto.
Chegou o dia do meu aniversário. A celebração foi muito simples, num almoço de família. Mas o facto de os meus filhos chegarem com um grande caixote deixou-me bastante intrigada. Como reposta à minha interrogação muda, veio apenas uma observação:
– Disseste que precisavas de tempo livre…
Oh… O tempo livre vem dentro de um caixote?! Não tentei espreitar, nem abanar o presente, pois essa seria uma atitude pouco respeitável para uma pessoa adulta. Mas pus-me a conjeturar sobre o conteúdo: “Tempo livre?! Hum… Talvez seja um robô aspirador!”
Não, não era um robô aspirador, mas sim uma air fryer – espécie de pequeno forno e fritadeira muito em voga, sobretudo entre os casais mais jovens. Tive de reconhecer que era uma boa ideia!
Veio depois a fase da experimentação: o que cozinhar, regulação do tempo, da temperatura, programação, técnicas e truques… Tudo estava a resultar muito bem e, de facto, a maquineta permitia (e permite) poupar algum tempo na cozinha.
Um dia ouvi falar nas vantagens do azeite ou óleo em spray, muito práticos para preparar os alimentos para a air fryer. Comprei uma embalagem.
Chegou o momento de experimentar. Retirei a tampa, pressionei o pulverizador… e nada! Insisti, mas o produto não saía. Socorro! Preciso de uma ação de formação sobre utilização de sprays. Impaciente, voltei a tentar: inclinei-me para ver o que se passava, carreguei de novo… e aspergi generosamente, com azeite virgem extra, os meus óculos, rosto, pescoço e cabelo.
Estou pronta para a air fryer.


Para que serve a poesia? - 5
