Estórias do quotidiano – 2
O hóspede inesperado
Era uma tarde tranquila de outono, com nuvens brancas, céu azul e brisa leve.
Percorri o jardim e aproximei-me da porta envidraçada que conduz à sala de estar. Parei, surpreendida. Lá dentro, as minhas gatas estavam muito agitadas e olhavam para o exterior com entusiasmo. Também eu olhei com atenção.
Aninhado no tapete exterior estava um passarinho. Permanecia muito quieto, mas os seus olhinhos pretos pousaram em mim.
“Oh, um passarinho! Tão lindo!”, pensei. “Deve ter batido contra os vidros… Coitadinho… Estará magoado?”
Rapidamente, peguei na cesta das molas da roupa e pousei-a sobre uma mesa do exterior. Com panos macios preparei uma espécie de ninho.
Depois aproximei-me devagar da avezinha. Tomei-a nas minhas mãos. Não parecia ferida. Permaneceu muito quieta, sem oferecer resistência.
Não sei explicar a sensação estranha de pegar num passarinho. É tão leve e frágil que quase parece não ter existência real. Mas ao mesmo tempo a vida está concentrada no rápido bater do coração, no olhar penetrante, nas patinhas que se contraem contra a nossa pele.
Depositei o passarinho no ninho improvisado. Aconcheguei-o, e ele ali ficou, dócil e tranquilo. Era tão lindo que não resisti a registar o momento numa fotografia.
“E agora?” – pensei – “Espero que não haja gatos por aí… Deve precisar de água e comida. Que gostará ele de comer?”
Fui buscar taças pequeninas. Aliás: a bem da verdade devo dizer que eram tampas de frascos e pratinhos para vasos. Não queria que o meu protegido morresse afogado numa grande taça de água. Como alimento optei por flocos de aveia triturados. O doentinho era tão pequeno!
Feitos os preparativos, aproximei-me do ninho improvisado. Devagar, sem movimentos bruscos, pousei as taças junto do passarinho. Nesse momento ele olhou-me e, cheio de vitalidade, lançou-se de repente num voo rápido até à árvore mais próxima.
Sorri e fui examinar a copa da árvore, sem sucesso. O meu hóspede imprevisto tinha voltado para a sua vida. Depois de alguns minutos de descanso, recuperara as forças, e ainda bem! Interferir demasiado na vida selvagem pode ter consequências nefastas…
Também eu voltei para os meus afazeres. Mas as minhas mãos continuaram a sentir o toque macio das penas coloridas, como se tivessem ainda o privilégio de proteger a trémula leveza de uma vida.
Passarinho, espero ouvir-te cantar para mim!
(Nota: Depois de uma breve pesquisa, parece-me que o meu hóspede inesperado é um pisco-de-peito-ruivo – Erithacus rubecula. Dizem que é um bom cantor… Conseguirei reconhecê-lo pelo canto?)
2 Comentários
Teresa Dangerfield
Os piscos de peito ruivo são muito bonitos e tendem a voltar aos mesmos lugares. Espero que este a venha visitar mais vezes.
Gostei muito de ler a sua crónoca. Quem sabe não terá uma parte Ii…
Paula Margarida Pinho
Olá!
Espero que sim: que o pisco venha visitar-me mais vezes, e que a história tenha continuidade!
Estes simples momentos de contacto com a natureza dão-nos ânimo, e aquecem o coração…
Beijinho.