Eu e os livros – capítulo III
Natal e livros
Quando eu era criança adorava receber livros, nos natais e aniversários. Eram os presentes que preferia mas, para meu desgosto, os que me rodeavam nem sempre percebiam isso. Suponho que, naquele tempo, ainda vigorava o sentido utilitário dos presentes, que levava as pessoas a oferecerem peças de vestuário ou, às meninas, coisas para o enxoval.
No Natal, receber livros era especialmente importante para mim. Porquê? Eu explico.
A família em festa
O Natal começava quando chegava de Vagos a família da minha tia, irmã do meu pai. Era grande a alegria do reencontro, e ficávamos preparados para viver em pleno a quadra natalícia, junto dos nossos avós.
A minha mãe chegava a queixar-se do ambiente de euforia que se instalava quando eu e os meus irmãos nos juntávamos às nossas duas primas! Éramos cinco diabretes a brincar, a rir, a fazer disparates e confusão… E, claro, a ajudar (…por vezes de forma muito pouco eficaz…) nos preparativos para a festa.
Os dois ou três dias do Natal passavam numa espécie de encantamento, numa sucessão de atividades fervilhantes, numa alegria espontânea e contagiosa, como só as crianças sabem viver em pleno. Preparativos; consoada; noite de Natal; manhã iluminada pela surpresa dos presentes (tão simples e tão desejados); missa com cânticos de Natal e brilhos nos olhares; brincadeiras; almoço especial…
O fim da festa, ou os livros como salvação
Porém, repentinamente, sempre demasiado cedo, a época festiva terminava. O meu tio não gostava de conduzir de noite. Por isso regressava a casa, com a família, antes do meio da tarde.
A animação transformava-se em silêncio, e eu sentia que o vazio e a tristeza se abatiam sobre mim.
Valiam-me então os livros que recebera como presentes. Só eles me ajudavam a superar a depressão de fim de festa. Sentava-me junto à lareira, na cozinha, ou refugiava-me no meu quarto, e lia, lia, lia… E assim mergulhava num outro universo, e esquecia o crepúsculo desolado do final do dia 25 de dezembro.
Lembro-me de um dia de Natal, já adolescente, em que recebi Mulherzinhas, de Louisa May Alcott. Era uma edição curiosa, que ainda hoje conservo: a capa é cartonada, e o texto (que talvez tenha algumas supressões) alterna com uma versão da narrativa em banda desenhada. Recordo que fiquei tão presa ao livro que só consegui dormir depois de terminar a leitura.
Lembro-me também de um Natal em que ninguém me ofereceu livros… Que tristeza! Depois da partida dos meus tios e primas, senti-me perdida e desolada…
Que posso mais dizer?
Neste momento, embora tenha mais livros do que seria razoável, e possa comprar os que mais desejo, continuo a adorar receber livros. E também adoro escolher livros para oferecer.
Os livros continuam a ser – e serão sempre – presentes de Natal muito especiais.
COMPRAR os meus livros online:
“estas imagens que se inscrevem no tempo”: Editora Busílis; Wook; Bertrand.
“Memórias de uma Gatinha Filosófica”: Editora Trinta Por uma Linha; Wook; Bertrand.
Comprar em Vale de Cambra: na Cambragest (na esquina em frente ao hipermercado Continente, junto ao cruzeiro, na Rua de Vila Chã, nº 542).
2 Comentários
Albertina Seco
Olá. Paula. Que bonita recordação do Natal.
A minha recordação das Mulherzinhas é de o ter requisitado na biblioteca Itenerante da Gulbenkian. Que livro maravilhoso naquela altura em que éramos umas meninas cheias de sonhos.
Desejo um ótimo Natal e um ano 2025 repleto das maiores felicidades.
Um grande abraço.
Albertina
Paula Margarida Pinho
Olá, Albertina!
Sim, o Natal está sempre ligado a muitas histórias, dos livros e da vida!
Eu também ia muito à biblioteca da Gulbenkian, que aqui funcionava no edifício da Câmara Municipal. Ao recordar, a memória mostra-me um aposento escuro, numa espécie de vão de escada… Nada semelhante às bibliotecas de hoje! Mas alguns dos livros que ali requisitei também me marcaram para sempre.
Um Natal muito feliz, querida Albertina, e um Ano Novo pleno de paz, alegrias e projetos bonitos concretizados! (Estou à espera da “irmã mais nova” da M. H.”)
Beijinhos.